Escritor José Falero é atração no ‘Feira vai à Fase’ 2023
Em bate-papo com os socioeducandos, autor destacou como a trajetória pessoal influenciou seu trabalho na literatura
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Com o objetivo de oportunizar o contato dos socioeducandos com a Feira do Livro de Porto Alegre, a Fundação de Atendimento Socioeducativo promoveu, nesta segunda-feira (13/11), o ‘Feira vai à Fase 2023’. A atividade, realizada em formato virtual, contou com a presença do escritor José Falero. As unidades participantes receberam obras do autor como preparação para o encontro.
Integrante do calendário anual de atividades da Fase, a iniciativa é organizada pela Diretoria Socioeducativa por meio da Coordenação Pedagógica e do Núcleo de Esportes, Lazer, Cultura e Espiritualidade (Nelce). O ‘Fase vai à Feira’ também é destinado a adolescentes que cumprem medida de Internação Sem a Possibilidade de Atividade Externa (ISPAE).
Natural de Porto Alegre, José Carlos da Silva Júnior é um dos autores mais lidos pelos socioeducandos em todo o Estado. José Falero lembrou o início da carreira e os principais desafios até a consolidação como escritor, a partir de obras como ‘Vila Sapo’, ‘Os Supridores’ e Mas em que mundo tu vive?’
Falero ocupou, por muitos anos, espaços de trabalho como servente de pedreiro, auxiliar de cozinha e supridor de supermercado, o que inspirou o romance ‘Os Supridores’, embora seja uma obra de ficção. No bate-papo com os adolescentes, destacou como a sua trajetória de vida influenciou o seu trabalho na literatura. O autor foi indicado duas vezes ao tradicional prêmio literário do Brasil, o Prêmio Jabuti, concedido pela Câmara Brasileira do Livro.
“Vou dar um recado, pra quem não gosta de escrever e nem de ler. Não subestimem a ‘parada’. Não podemos achar que sabemos tudo. Procurem um livro que vocês gostem e comecem”, disse ele, que também é desenhista e músico. “A vida é cheia de perigos e armadilhas, como nos afastar dos livros”, refletiu.
Falero é reconhecido pela utilização de termos e narrativas da periferia. “A gente tem um jeito de falar que é muito próprio e característico da periferia de Porto Alegre. Muitas vezes achamos que estamos errados e temos medo de usar a nossa linguagem (…) Mas o nosso jeito de falar é legítimo. Se falamos e o outro entende, basta!”, refletiu.
Ao responder a questionamentos formulados pelos adolescentes, citou, ainda, que a “linguagem é ferramenta de dominação” e critica: “Muitas vezes ela é usada para desqualificar a pessoa, para não dar o emprego”, completou. “A vida inteira assistia as novelas, mas não me via no lugar do outro. Nas minhas histórias, o protagonismo é todo da periferia”, completou.
Leitura e escrita
O presidente da Fase, José Stédile, lembrou a série de atividade promovidas pela Fundação com o intuito de estimular o hábito pela leitura e pela escrita, como o ‘Concurso Literário’ e o ‘Fase vai à Feira’, realizada na semana passada.
“São atividades das mais variadas em todas as unidades. Nosso trabalho busca a recuperação dos jovens e a soma de esforços para que encontrem um novo rumo. A nossa missão é transformar vidas para melhor”, pontuou o gestor.
O ‘Feira vai à Fase’ surgiu em 2002, quando a Câmara Rio-grandense do Livro passou a levar autores convidados do evento ao Centro de Internação Provisória Carlos Santos (CIPCS), em Porto Alegre, sendo ampliada posteriormente para as demais unidades.
“Entendemos que a leitura e o conhecimento são importantíssimos no processo socioeducativo em todas as regionais da Fase. São recursos fundamentais no plano individual de todos os adolescentes e, principalmente, para o plano de desligamento”, completou a diretora Socieducativa da Fase, Cláudia Patel.
Saiba mais
A atividade foi acompanhada por servidores e socioeducandos de unidades de internação e de semiliberdade da Fase em todo o Estado. A edição foi realizada com apoio da Câmara Riograndense do Livro.
A Fase também esteve representada pelo chefe do Nelce, Pedro Falkenbach Júnior, que intermediou a atividade, e pelo analista bibliotecário Wellington Bucco. A dupla agradeceu aos participantes, destacando o engajamento de todas as unidades na atividade.